Projetos de Pesquisa

TÍTULO DO PROJETO: INTERMIDIALIDADE VS. TRANSMIDIALIDADE / ADAPTAÇÃO VS. TRANSMIDIAÇÃO
LINHA DE PESQUISA: LITERATURA E INTERMIDIALIDADE
PROFESSORA RESPONSÁVEL: BRUNILDA REICHMANN

Descrição do projeto: Esse projeto visa a elucidar os mais variados conceitos relacionados à Intermidialidade, expressão que substituiu “Estudos Interartes”, que, por sua vez, substituiu a expressão “Estudos Comparativos” ou “Literatura Comparada”. Está relacionado à linha de pesquisa Literatura e Intermidialidade e às disciplinas Imagem e Literatura, Estudos de Intermidialidade e Literatura e Tecnologia Digital do Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária da Uniandrade. Esse projeto, portanto, visa a trabalhar com vários conceitos desenvolvidos ao longo de anos e que resultaram em uma profusão de termos e conceitos nos Estudos de Intermidialidade. Alguns trabalhos a serem realizados e publicados serão de cunho teórico e outros de cunho analítico. Os trabalhos de cunho teórico prestar-se-ão ao esclarecimento da diversidade e multiplicidade da terminologia e os de crítica tratarão principalmente da análise de séries como a intitulada Ripley, de 2024, baseada no romance policial O talentoso Ripley (1955), de Patricia Highsmith, em diálogo também com o filme O talentoso Ripley, de 1999. Essa série tematiza as pinturas e obras de Caravaggio, em seu intenso diálogo com sua pintura do início ao fim da série e com a utilização da técnica chiaroscuro, característica do pintor. Os teóricos da adaptação e da picturalidade serão os mais requisitados, quer para ressignificar e densificar passagens quer para demonstrar como a leitura superficial de uma transposição pode obscurecer a riqueza do resultado do processo transmidiático.


TÍTULO DO PROJETO: RELAÇÕES LITERÁRIAS SUL-SUL: BRASIL/AMÉRICA LATINA E ÍNDIA
LINHA DE PESQUISA: POLÍTICAS DA SUBJETIVIDADE
PROFESSORA RESPONSÁVEL: CAMILA MARCHIORO

Descrição do projeto: Este projeto visa investigar o intercâmbio cultural entre América Latina e Índia durante o século XX utilizando as redes estabelecidas por escritores e poetas locais como ponto de partida. O estudo busca destacar conexões muitas vezes obscurecidas pela hegemonia intelectual. Por meio da análise de obras literárias, correspondências e interações de autoras como Cecília Meireles, Victoria Ocampo e Gabriela Mistral no que se refere à Índia, o projeto busca responder a questões fundamentais sobre como redes de intercâmbio cultural impactaram a literatura latino-americana do século passado. Ao final, espera-se contribuir para uma compreensão mais ampla das relações culturais entre Brasil/América Latina e Índia, revitalizando estudos sobre esse tema e oferecendo insights para uma História da Literatura da América Latina no século XX e suas relações com o Oriente.


TÍTULO DO PROJETO: AS CONFIGURAÇÕES INTERMIDIÁTICAS NAS OBRAS DE ARTE DA ATUALIDADE
LINHA DE PESQUISA: LITERATURA E INTERMIDIALIDADE
PROFESSORA RESPONSÁVEL: CÉLIA ARNS DE MIRANDA

Descrição do projeto: Descrição: Percebe-se que, atualmente, existe um interesse crescente em relação aos estudos da intermidialidade e que as perspectivas de investigação das configurações intermidiáticas que caracterizam as obras de arte da contemporaneidade são muito profícuas. Exemplos de obras que são constituídas por diversas mídias estendem-se desde os espetáculos teatrais, filmes, histórias em quadrinhos até performances, óperas, musicais, dentre outras possibilidades. Pretende-se com esse projeto promover uma ampliação, atualização e revisão dos parâmetros teóricos que regem as discussões tanto nos eventos acadêmicos como nos GTs difundidos pelo Brasil. Os alunos e ex-alunos da pós-graduação a nível de especialização, mestrado e doutorado serão convidados a participarem através dos cursos que serão ofertados, dos grupos de pesquisa e, de uma forma muito enfática, através das pesquisas que serão desenvolvidas e da compilação de artigos e livros que serão publicados.


TÍTULO DO PROJETO: A ANTIFICÇÃO ROMANESCA BRASILEIRA COMO EXEMPLO DE ESTÉTICA LITERÁRIA, ATRAVÉS DA AUTOFICÇÃO TESTEMUNHAL
LINHA DE PESQUISA: POÉTICAS DO CONTEMPORÂNEO
PROFESSOR RESPONSÁVEL: EDSON RIBEIRO DA SILVA

Descrição do projeto: A pesquisa procura estabelecer o conceito de antificção romanesca como definição para uma estética recorrente na produção literária brasileira recente. A autoficção serviu como possibilidade para a literatura de testemunho, assim como para narrativas de temática identitária. Por ser uma modalidade que abarca gêneros, a autoficção desdobrou-se em inúmeras configurações estéticas. No Brasil, ela aparece como antificção, conceito criado por Philippe Lejeune para explicar a demanda por narrativas em que o autor fala de si, de um modo bastante específico: se, em países como França e Espanha, o leitor tem buscado escritas de si, como diários e autobiografias, aqui a antificcionalidade fica evidente na demanda por romances autoficcionais de testemunho. Nas últimas décadas, a antificção tem aparecido na literatura que trata dos traumas gerados pela ditadura militar. Os romances de teor testemunhal trazem em sua configuração documentos reais, notícias, fotografias, como modo de estabelecimento de um pacto de leitura parresiástico, no sentido de Michel Foucault. Há uma prevalência do romance-diário e da passionalidade como reação às políticas de esquecimento e negacionismos. A pesquisa se apoia nos conceitos de ficção e pacto de leitura de John R. Searle, no de antificção, de Philippe Lejeune, no de autoficção como pacto ambíguo, de Manuel Alberca, e no de parresía, de Michel Foucault, como coragem de falar a verdade, no de identidade narrativa, de Paul Ricoeur, para quem narrar é constituir-se como sujeito. Esses romances são narrativas de formação individual e coletiva. São exemplos de vitalidade do romance.


TÍTULO DO PROJETO: VOLTANDO PARA CASA: INTERTEXTOS BÍBLICOS EM OBRAS LITERÁRIAS
LINHA DE PESQUISA: POÉTICAS DO CONTEMPORÂNEO
PROFESSORA RESPONSÁVEL: GREICY PINTO BELLIN

Descrição do projeto: Eric Auerbach, no célebre estudo intitulado Mimesis, aponta para a existência de dois pensamentos que forjaram o cânone literário ocidental: o pensamento grego, representado pelas epopeias de Homero, e o pensamento hebraico, que encontra sua máxima representação nos textos que compõem a Bíblia. Objeto de estudo por parte de outros autores, entre eles Robert Alter, Frank Kermode e Northrop Frye, os textos bíblicos encontram profundas ressonâncias em várias obras literárias de diferentes épocas e contextos, o que remete aos múltiplos intertextos evocando aspectos complexos e profundos dos enredos presentes tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. O propósito deste projeto é mapear, discutir e analisar a presença destes intertextos em várias obras literárias tanto do Brasil quanto do exterior, levando em consideração o conceito de produção de presença, formulado por Hans Ulrich Gumbrecht, assim como o conceito de consciência, objeto de variados estudos na vertente da fenomenologia e sua aplicação à análise do texto literário. O projeto também procurará acolher estudos que envolvam adaptações dos textos bíblicos para variadas mídias, como novelas, séries televisivas, filmes, quadrinhos, músicas, esculturas, pinturas, enfim, mídias que apontem para a preservação do cânone bíblico nos dias atuais.


TÍTULO DO PROJETO: PRODUÇÃO DE PRESENÇA NA LITERATURA, NAS ARTES E NAS MÍDIAS
LINHA DE PESQUISA: POÉTICAS DO CONTEMPORÂNEO
PROFESSORA RESPONSÁVEL: GREICY PINTO BELLIN

Descrição do projeto: A polarização do ambiente acadêmico entre estudos culturais e desconstrucionismo, referida por Hans Ulrich Gumbrecht em Atmosfera, Ambiência e Stimmung (2014), conduz à necessidade do estabelecimento de uma vertente de análise literária que priorize o impacto material dos textos literários sobre a consciência humana e sobre o corpo e mente dos leitores. O termo “material” não se refere, entretanto, a uma perspectiva de análise marxista, como comumente se comenta na academia. Trata-se de uma vertente que encontra na expressão produção de presença uma de suas mais contemporâneas realizações, conduzindo-nos a refletir sobre abordagens que desestabilizem a primazia exclusiva do sentido na análise literária e nos levem a observar aspectos referentes à corpo, performance e Stimmung sem, todavia, negligenciar a atribuição de significados que é tão indispensável à existência humana. O objetivo deste projeto é, com base nas ideias de Gumbrecht, Paul Zumthor e Bert Hellinger, discutir e analisar os efeitos de presença e Stimmung produzidos por várias obras literárias, artísticas e midiáticas, considerando que estes efeitos são responsáveis pela eternização destas obras na mente e na memória dos leitores. Serão também acolhidos estudos que focalizem em adaptações intermidiáticas como manifestações da presença de um texto em ou dentro de outro, a fim de ampliar o escopo de nossas investigações.


TÍTULO DO PROJETO: PERSPECTIVAS INTERMIDIÁTICAS NO ESTUDO DE QUESTÕES SOCIOCULTURAIS E DA MATERIALIDADE DAS MÍDIAS
LINHA DE PESQUISA: LITERATURA E INTERMIDIALIDADE
PROFESSORA RESPONSÁVEL: MAIL MARQUES DE AZEVEDO

Descrição do projeto: Midialidades são cruzamentos comunicativos materiais que permitem que forma e conteúdo sejam transferidos e recebidos entre um emissor e um receptor, podendo ser transmissor e receptor seres humanos, objetos ou animais. Aspectos sensoriais, espaço-temporais e semióticos são os blocos básicos na construção de midialidades. Assim, a própria noção de mídia e de mediação acarreta a ideia de mistura de elementos: não existem mídias puramente auditivas, tácteis ou olfativas. Com a finalidade de orientar subprojetos de acadêmicos este projeto desenvolve o estudo e organização de um arcabouço teórico básico para análise das relações intermidiáticas em literaturas situadas no cruzamento de culturas, a exemplo das literaturas de minorias e das literaturas pós-coloniais. Parte-se dos estudos de adaptação de Linda Hutcheon, de relação entre mídias de Irina Rajewsky, Claus Clüver e Lars Ellestrom. Numa tradição que se estende de Karl Marx e Max Weber a Guy Debord e Jean Baudrilllard, o processo de modernização ou de pós-modernização é entendido como um processo de abstração (BROWN (2010). No entanto, desde os anos 1990, a atenção na materialidade do meio, da informação e da comunicação inspira pesquisas sobre uma ampla variedade de tópicos, desde o substrato material da mídia até o ser humano e à interação do corpo com a tecnologia. Para desenvolver o estudo da materialidade dos fenômenos intermidiáticos toma-se como ponto de partida os estudos sobre materialidades da comunicação de Bill Brown. Hans Ulrich Gumbrecht, Thomas Nall e outros.


TÍTULO DO PROJETO: IDENTIDADE, MEMÓRIA E RESISTÊNCIA NA VOZ DE ESCRITORAS NEGRAS EM PROTESTO CONTRA O NEOCOLONIALISMO
LINHA DE PESQUISA: POLÍTICAS DA SUBJETIVIDADE
PROFESSORA RESPONSÁVEL: MAIL MARQUES DE AZEVEDO

Descrição do projeto: A preservação da identidade e da memória ancestral é de importância decisiva para os indivíduos em situação de inferioridade, em relação às camadas dominantes de uma sociedade, seja em termos de raça, classe ou gênero. Na sociedade patriarcal a experiência do homem é central e absoluta, enquanto a mulher é alienada da subjetividade plena: o homem detém o poder do “eu” (self) enquanto a mulher é relegada ao status de “outro”. A oposição self vs other expressa em diferentes termos como centro/margem ou dominante/silenciado desempenha papel fundamental no estudo da literatura de autoras negras, que constituem o objeto deste projeto de pesquisa. O corpus constitui-se da produção literária de autoras afro-brasileiras, afro-americanas e africanas de língua portuguesa ou inglesa. Concentra-se o estudo na interseccionalidade das categorias de gênero, raça e classe – e na  importância de reconhecê-la como determinante da dominação e exploração que afeta certas mulheres. Esta, segundo Maria Lugones, é a premissa básica do feminismo de cor. Suas representantes denunciam o feminismo hegemônico por ignorar a interseccionalidade entre raça/classe/sexualidade/gênero. (Lugones, 2008). As teorias de escrevivência de Conceição Evaristo; de womanism (mulherismo) de Alice Walker, dororidade, de Vilma Piedade; ou de mulherismo africana, na denominação de Clenora Hudson-Weems − que rejeita tanto as denominações feminismo africano como feminismo negro, alegando que os dois termos permanecem alinhados com o feminismo branco de classe média − embasam as análises.


TÍTULO DO PROJETO: A ARTE DA BREVIDADE
LINHA DE PESQUISA: POÉTICAS DO CONTEMPORÂNEO
PROFESSOR RESPONSÁVEL: MARCELO BARBOSA ALCARAZ

Descrição do projeto: O objetivo desse projeto é ler e problematizar autores que se expressaram através das formas breves, brasileiros e latino- americanos. Escritores que se expressaram através dos seguintes gêneros literários: , conto, crônica, miniconto e aforismos. O objetivo maior  é a discussão sobre a criação de formas breves, para dizer com Ricardo Piglia, textos quase sempre fronteiriços, que expressam de algum modo a fluidez e a aceleração contemporânea: contos, crônicas, prosa poética, trechos de diários íntimos ou pequenos aforismos. Ao final será feito o cruzamento com exercícios de escrita criativa, com a produção e a análise de textos produzidos pelos alunos. São muitos os autores que poderiam ser inseridos nesse debate, mas nosso recorte terá como foco alguns deles que levaram ao extremo o exercício da beleza conciliada com a brevidade. Dalton Trevisan, João Glberto Noll e Júlio Rámon Rybeiro.


TÍTULO DO PROJETO: CRÔNICA E ANTICRÔNICA: UM DEBATE
LINHA DE PESQUISA: ESCRITA CRIATIVA
PROFESSOR RESPONSÁVEL: MARCELO BARBOSA ALCARAZ

Descrição do projeto: A crônica é o um dos mais conhecidos gêneros literários brasileiros, contudo, é definida muitas vezes como um gênero leve, menor. Este projeto deverá fomentar a leitura e o debate sobre autores que problematizam e modificam a percepção acerca do gênero, considerando-o complexo e refinado. Estudaremos textos contemporâneos que mimetizam o caos e a aceleração, a preponderância das imagens e a carência da imaginação; escritos que mesclam o oportunismo do fotógrafo com a habilidade do ensaísta, impressões sobre o cotidiano com a metalinguagem. Neste projeto vamos expor e problematizar as várias tonalidades do gênero e não somente o conforto da definição “gênero leve e menor”. Por isso, vamos propor o conceito de anticrônica, capaz de se aproximar mais dos temas e da estética de autores como Hilda Hilst, Jamil Snege e Victor Heringer.


TÍTULO DO PROJETO: CÂNONE, VANGUARDA E SISTEMA LITERÁRIO: TRADIÇÃO, RUPTURA E (DES)CONTINUIDADES
LINHA DE PESQUISA: POLÍTICAS DE SUBJETIVIDADE
PROFESSOR RESPONSÁVEL: OTTO LEOPOLDO WINCK

Descrição do projeto: Segundo a Teoria dos Polissistemas, de Itamar Even-Zohar, um determinado sistema literário é constituído de vários fatores (produtores, consumidores, instituição, produto, mercado e repertório) e diversos estratos, que funcionam como opções concorrentes parcialmente alternativas. Assim, há um estrato dominante, canonizado, e estratos mais ou menos periferizados: um estrato popular, outro vanguardista, outros ainda ligados a determinados nichos de consumidores. Qualquer sistema cujos estratos dominantes não sofram a concorrência de estratos não-canonizados entraria em decadência. Sob a pressão destes, os repertórios não podem permanecer inalterados. E é esta dinâmica que garante a evolução do sistema, sem a qual ele poderia fossilizar-se ou mesmo extinguir-se. O presente projeto pretende lançar um olhar sobre essas disputas entre estratos concorrentes no desenrolar sincrônico de um determinado sistema literário.


TÍTULO DO PROJETO: NARRATOLOGIA: OS ELEMENTOS DA NARRATIVA
LINHA DE PESQUISA: ESCRITA CRIATIVA
PROFESSOR RESPONSÁVEL: OTTO LEOPOLDO WINCK

Descrição do projeto: À luz da narratologia de Roland Barthes, Gérard Genette, Paul Ricoeur, Umberto Eco e Yves Reuters, pretende-se examinar os procedimentos e os elementos constituintes da narrativa, desde a focalização até a relação entre o tempo do narrado e o tempo do narrar, passando pelas anacronias (analepses e prolepses) e os demais elementos do texto narrativo. A partir disso, o nosso alvo é exercitar os mais diversos modos narrativos. Objetivo geral: estudar, analisar e exercitar os principais elementos da narrativa. Objetivos específicos: a) ter uma visão geral do funcionamento interno da “máquina” narrativa; b) atualizar os conhecimentos de narratologia e articulá-los com as demais áreas dos estudos literários; c) com base nesses estudos, produzir textos narrativos em que esses elementos sejam experimentados; d) relacionar os modos de representação e os meios representados, servindo-se para tanto de aportes de Bakhtin, Walter Benjamin, Lukács e Franco Moretti.


TÍTULO DO PROJETO: LITERATURA, MÍDIAS E TECNOLOGIA: TRANSITIVIDADES E MUTAÇÕES
LINHA DE PESQUISA: LITERATURA E INTERMIDIALIDADE
PROFESSORA RESPONSÁVEL: VERÔNICA DANIEL KOBS

Descrição do projeto: O projeto analisa a relação da literatura com outras mídias (Rajewsky, 2005) e com as tecnologias que caracterizam as publicações impressas (Machado, 2001; Carrière; Eco, 2009) e digitais (Beiguelman, 2003). Nesse âmbito, devido ao fato de o termo “mídias” abranger não apenas os meios de comunicação (Kress; Van Leeuwen, 2001), mas também as artes (Stangos, 2000), privilegiam-se as adaptações, que oferecem novas perspectivas, um novo contexto e um público mais amplo para a literatura. É nesse sentido que a ideia da transitividade torna-se essencial, já que o diálogo entre as artes resulta na complementaridade, no aprofundamento e na permanência do texto literário. Por outro lado, há também a mutação, considerando que, apesar de a obra adaptada continuar sendo lida e discutida, ela sofre mudanças de diversas ordens, a fim de se encaixar em um novo tempo e em uma nova sociedade (Stam, 2006). Além disso, há as mudanças estéticas, em consequência da linguagem e dos recursos próprios da arte relacionada à adaptação. Abrangendo, ainda, a literatura que transita do livro para a tela do computador, este projeto investiga as diferenças entre os suportes off-line e on-line, no que diz respeito às vantagens, desvantagens e, principalmente, no que se refere aos atributos da literatura digital, que vem contribuindo de modo positivo para a reconfiguração do livro impresso (Bolter, 2001) e também dos processos de autoria e leitura. Em contrapartida, focalizando especialmente o hiperambiente digital, este estudo também analisa as características inerentes à cibertextualidade (Aarseth, 2006; Santaella, 2003), que amplia, de modo bastante significativo, o cruzamento da literatura com outra artes e com outras mídias (Santaella, 2005; Sonvilla-Weiss, 2010).


 
 
A área de concentração – Teoria Literária  –  abriga quatro linhas de pesquisa:
I – Políticas da Subjetividade: abriga estudos relacionados às subjetividades da pós-modernidade, presentes na literatura e em outras expressões culturais.
II – Poéticas do Contemporâneo: abriga estudos relacionados à estética literária e à intertextualidade.
III – Literatura e Intermidialidade: abriga estudos da literatura e outras artes e mídias, tais como cinema, teatro, pintura e música.
IV – Escrita Criativa: aborda criticamente o processo de criação textual, compreendendo os mais diversos gêneros literários (narrativo, lírico, dramático).
DESCRIÇÃO DAS LINHAS DE PESQUISA E RELAÇÃO ENTRE AS LINHAS E AS DISCIPLINAS
I – POLÍTICAS DA SUBJETIVIDADE
Esta linha de pesquisa volta-se aos estudos de cultura, teoria, história e crítica literária com vistas à investigação dos processos de construção da subjetividade nos contextos literário, histórico, político e cultural. Investigação dos processos pelos quais o texto literário articula as relações de poder que dão origem à formação do sujeito romântico, tanto em seu aspecto político, quanto ontológico, ético e epistemológico. Estudos cujo enfoque redunda na produção de saberes capazes de ampliar a compreensão em torno das políticas que foram ou estão sendo empregadas no processo de construção das subjetividades, tanto por meio da individualidade, quanto através da coletividade. Discussão das formas e práticas de construção da subjetividade das minorias nos textos de autores representativos da minoria estudada.
Entende-se aqui a subjetividade romântica como um conjunto de valores identitários representativos da relação de forças no campo artístico, histórico e cultural do período. Os estudos propostos nesta linha pretendem aproveitar a metodologia do pensamento romântico como anotação intermediária, visto que ao centrar a produção do discurso num EU histórico e individualizado, o romantismo, paradoxalmente, multiplica olhares sobre indivíduos.
Por outro lado, as investigações do humano ganham dimensão mais complexa a partir do momento em que é possível questionar a dicção clássica do homem; a experiência surge como errância do sujeito centrado no discurso individualizado, cúmulo de angústias e destinos opacos. Torna-se possível pensar pela lógica da diferença. Diferença de credo, de raça, de forma e de lugar. Dessa forma, as séries se complexificam e operam num meio em que a força dos campos social e político se relativizam radicalmente. Por outro lado, mas em simultaneidade, estudar os processos identitários posteriores ao romantismo significa também acompanhar as linhas de totalitarismo que buscam “estancar” as vozes da diferença no meio social, político e cultural. Trata-se, portanto, de investigar e questionar as dicções do humano que ganham voz e lugar por meio de individualidades que se chocam ou se harmonizam caoticamente numa nova lógica de disputas e acordos nos campos social, político e cultural; trata-se, ainda, de verificar como opera a lógica de estatuir valores nacionais a partir de construções identitárias que tomam por base princípios determinados por forças sociais hegemônicas. Da mesma forma, cabe aqui a investigação da noção de raça ou etnia dentro e fora dos discursos nacionais; ou mais, a questão de gênero, presente na reflexão sobre autoria e identidades sexuais do discurso cultural nos meios social e político.
Neste sentido, o vocábulo “política” é aqui empregado para além de sua acepção tradicional, implicando não só as relações decorrentes do poder de Estado, mas toda e qualquer forma pela qual o poder se manifeste. Nesse sentido, o poder é uma prática social, algo que se exerce. O poder e a política, assim concebidos, dão origem a um duplo paradoxo. Em primeiro lugar, pressupõe-se a existência de sujeitos, de alguém que submeta outrem a seu domínio e outro alguém que se deixe submeter. Contudo, a própria ideia de subjetividade já pressupõe as relações de poder, uma vez que o sujeito só se reconhece a si mesmo na apreensão fenomenológica da existência de um Outro. Em outras palavras, a política pressupõe a subjetividade e, ao mesmo tempo, a subjetividade só se dá como resultado do exercício da política. Em segundo lugar, o modo como o texto literário articula as relações de poder que dão origem à formação do sujeito pressupõe uma referência a uma instância extratextual, o contexto, seja este o do autor, do leitor, dos personagens ou de mais de um destes concomitantemente. A linha de pesquisa Políticas da Subjetividade se define, portanto, como uma investigação acerca do modo como o discurso literário encontra uma solução poética e não necessariamente especulativa aos paradoxos mencionados acima.
Disciplinas relacionadas à linha de pesquisa Políticas da Subjetividade
Disciplinas nucleares ou propedêuticas (4001, 4002, 4003, 4004, 4005)
Código 4006 – Crítica Cultural
Código 4007 – Passagens da Modernidade
Código 4008 – Poéticas e Políticas Afro-Americanas
Código 4010 – Linguagens da Alteridade
Código 4020 – Tópicos de Leitura I
Código 4021 – Tópicos de Leitura II
II – POÉTICAS DO CONTEMPORÂNEO
Eixo de estudos que buscam evidenciar as tensões entre as posturas mais pragmáticas e tradicionais dos estudos literários e a perspectiva mais genérica e inclusiva que tem marcado a atuação teórica contemporânea, sobretudo quando se pensa na diversidade de reciclagens, combinações e recombinações no âmbito dos gêneros textuais e das múltiplas abordagens teóricas. Estudo das poéticas literárias em suas expressões contemporâneas, com ênfase à passagem da modernidade à pós-modernidade e à desconstrução dos discursos de caráter totalizante.
Os termos “moderno” e “pós-moderno” são problemáticos e controvertidos. O significado dos conceitos de modernidade e modernismo depende do contexto em que se originaram e em que são usados. Modernidade implica uma oposição a algo, e particularmente a uma época histórica que tenha passado e sido superada. Nas artes e na literatura, usa-se o vocábulo “modernismo” para nos referirmos ao desenvolvimento de formas de arte mais auto-reflexivas que surgem no final do século XIX. Outrossim, os usos da palavra “pós-modernismo” mostram tamanha diversidade de significados que ela própria contesta a simples definição. O romance pós-moderno, por exemplo, poderia ser descrito como incorporando um experimentalismo à forma narrativa, por intermédio do qual se busca um rejuvenescimento das convenções estabelecidas da própria forma.
Em outras palavras, o pós-modernismo é um discurso estético de vanguarda, que procura superar as limitações das convenções tradicionais ao procurar novas estratégias para descrever e interpretar a experiência. De acordo com Lyotard, o pós-modernismo não deve ser compreendido como uma progressão histórica que sinalize uma partida presente de um modernismo passado. O modernismo é, na verdade, caracterizado como uma resposta a um conjunto de preocupações que já são, elas mesmas, pós-modernas, uma vez que incorpora um forte desejo nostálgico pelo senso perdido de unidade e constrói em seguida uma estética de fragmentação. O pós-modernismo, ao contrário, começa com a falta de unidade mas, ao invés de lamentá-la, celebra-a. Estas discussões são retomadas por outros críticos associados ao pós-modernismo, como Jean Baudrillard, Fredric Jameson, Jacques Derrida, Michel Foucault, Luce Irigaray, entre outros.
Diante do exposto, optou-se pelo uso do termo “contemporâneo” para dar conta da multiplicidade de linguagens, pluralidade de abordagens teóricas e tendências críticas da época atual, uma vez que o texto literário e suas reciclagens artísticas apresentam-se hoje de forma múltipla, instável e complexa, numa variedade infinita de manifestações ainda pouco pesquisadas. Objetiva-se caracterizar os processos de construtividade, visando a problematização das complexas relações de forma e conteúdo em todos os níveis, nos termos das concepções estéticas e das metalinguagens hoje vigentes.
A contemporaneidade se caracteriza pela multiplicidade de linguagens literárias, pluralidade de abordagens teóricas e tendências críticas. A reciclagem artística, ou seja, a apropriação e/ou adaptação de textos, elementos culturais, formas e convenções literárias herdadas, que também se fez presente anteriormente, é uma tendência marcante. A contaminação de gêneros, a permeação de técnicas e recursos literários, os procedimentos paródicos e combinatórios e o dialogismo intertextual tornaram-se, na época de hoje, lugares comuns. Consideramos relevante, portanto, investigar as manifestações literárias que se fizeram necessárias para expressar a realidade em processo e a relatividade de valores de nossos dias, cujo mapeamento servirá para ampliar a discussão em torno da relação forma /conteúdo e constituir-se-á em veículo fecundo para repensar as relações do homem de hoje com o mundo contemporâneo.
Disciplinas relacionadas à linha de pesquisa Poéticas do Contemporâneo
Disciplinas nucleares ou propedêuticas
Código 4011 – Poéticas da Modernidade
Código 4012 – Poéticas da Reciclagem
Código 4013 – Poéticas da Cena Contemporânea
Código 4020 – Tópicos de Leitura I
Código 4021 – Tópicos de Leitura II
Código 4022 – Tópicos de Leitura III
III – LITERATURA E INTERMIDIALIDADE
Esta linha de pesquisa “Literatura e Intermidialidade” pretende debater os conceitos de intermidialidade sob uma perspectiva que vai além de um simples comparativismo, focalizando especialmente o estudo das inter-relações, dos contágios, das imbricações e dos atritos entre a literatura e outras formas de arte/mídia, que, cada vez mais convergem, gerando processos discursivos cada vez mais complexos. Transitando entre a materialidade do texto literário e a semiologia do texto, da imagem e do som, esta linha tem como meta o estudo dos processos de produção de sentido, valendo-se de conceitos como transposição midiática e intermidialidade, tradução ou transposição intersemiótica, adaptação intermidiática, entre outros. Entre seus objetivos, destacamos a análise crítica de obras (contemporâneas ou não), constituídas de textos em diferentes mídias, incluindo produções baseadas na combinação de várias mídias (espetáculos teatrais, óperas, filmes, histórias em quadrinhos, instalações e canções), bem como transposições intermidiáticas (adaptações cinematográficas, romantizações, etc.) e referências intermidiáticas: musicalização da literatura, transposition d’art, ecfrases – representações verbais de textos compostos em signos não verbais –, referências a pinturas em filmes e fotografias, entre outros.
Com enfoque transdisciplinar, esta linha de pesquisa visa a estudar as relações entre a literatura e outras artes e mídias sob o ponto de vista das teorias da Intermidialidade. Como se sabe, os Estudos da Intermidialidade constituem uma resposta à tendência à especialização extrema, que tem impedido uma compreensão mais aberta das profundas interações entre as várias formas de mídias e artes na contemporaneidade. Durante as últimas décadas, estudos sobre a Intermidialidade e a Multimodalidade têm sido estabelecidos em diversas instituições de ensino superior na Europa e na América do Norte. Entretanto, essa abordagem não é inteiramente nova, pois os Estudos da Intermidialidade foram precedidos historicamente por áreas como Estética, Filosofia, Semiótica, Literatura Comparada, Estudos da Mídia e da Comunicação, bem como Estudos Interartes. Na verdade, essa área foi denominada inicialmente “Artes Comparadas”, termo compreensível apenas para aqueles que o associavam ao conceito de Literatura Comparada. Em seguida passou a se chamar “Interarts Studies”, que corresponde a “Estudos Interartes”, em português; porém, nos países de língua alemã, a área sempre teve a denominação de Estudos da Intermidialidade.
Os Estudos da Intermidialidade ampliam o escopo de suas pesquisas ao incorporar o termo “mídias” (e não apenas “artes”): como o conceito de “arte” está associado a certos valores e convenções culturais, o termo “mídia”, com sua ênfase na materialidade dos produtos de uma mídia, tem se mostrado frequentemente mais adequado para a produção cultural desde o início do século XX – sem, no entanto, eliminar um discurso sobre “arte” em determinados contextos. Em suma, podemos definir a Intermidialidade basicamente como o estudo da cooperação e colaboração entre as mídias e as formas de arte, isto é, dos fenômenos que ocorrem entre as mídias. Assim, esse tipo de pesquisa trata de produtos culturais marcados pela ausência de limites entre uma arte/mídia e outra, consciente de que não há formas artísticas/midiáticas “puras”, já que todos os tipos de mídia e de arte estão relacionados de várias maneiras.
Esta linha de pesquisa se propõe a funcionar como uma rede, na qual os pesquisadores envolvidos podem realizar um amplo debate sobre a pertinência do conceito de intermidialidade como um operador de leitura de textos (no sentido amplo deste termo), além de promover pesquisas sobre produtos culturais/artísticos caracterizados pelo cruzamento de artes e mídias.
Disciplinas relacionadas à linha de pesquisa Literatura e Intermidialidade
Disciplinas nucleares ou propedêuticas
Código 4014 – Imagem e Literatura
Código 4015 – Estudos de Intermidialidade
Código 4016 – Literatura e Tecnologia digital
Código 4020 – Tópicos de Leitura I
Código 4022 – Tópicos de Leitura III
IV – ESCRITA CRIATIVA
Esta linha de pesquisa foi implantada considerando-se a vocação do programa para tratar da prática da escrita e de seus processos criativos. Tal vocação emergiu da presença, dentre o corpo docente do Doutorado, de professores escritores bastante representativos no meio literário regional e nacional. São eles: Edson Ribeiro da Silva, Marcelo Alcaraz, Otto Leopold Winck, Paulo Sandrini e Sigrid Renaux. Esta linha considera que os estudos literários, corretamente compreendidos, não se resumem ao estudo do texto enquanto entidade textual autônoma, tampouco à análise das condições de sua produção – isto é, ao contexto, aquilo que está no “entorno” do texto – ou à história de suas múltiplas e sucessivas recepções.
Recentemente desenvolveu-se um campo de estudos teóricos e práticos em que o texto literário é analisado enquanto processo de criação na sua interação ambivalente com as artes e os processos humanos mais amplos. Nesse sentido, pretende-se lançar um olhar sobre os bastidores, por assim dizer, do processo criativo, libertando-o na medida do possível das concepções românticas que ainda o envolvem. Desde Edgar Alan Poe que os autores mostram que o processo criativo não depende unicamente daquilo que é chamado de inspiração, mas também de um trabalho consciente de organização de ideias e palavras, baseado em técnicas e teorias e considerando as mais diversas instâncias do sistema literário.
O processo criativo em si é, atualmente, tema abordado a partir de diversas concepções, desde a crítica genética até a semiótica. Tal processo pode constituir ele mesmo uma tomada de posição do escritor e do artista, contribuindo para a discussão do aspecto ideológico da literatura. A relação do autor com o texto, o conceito de autoria e suas relações com a tramas textuais, os diferentes processos criativos e suas teorias de base, a articulação entre criação consciente e inspiração são alguns dos objetos desta linha de pesquisa. Da mesma forma, é alvo de análise a dialética entre invenção e tradição, e como isso se dá dentro de um determinado sistema literário, com seus mais variados vínculos e diálogos com o campo do extraliterário. Entrando no complexo universo dos gêneros literários, os elementos da narrativa e suas articulações arquitetônicas, a poesia e sua “hesitação” entre som e sentido também são alvo dos estudos aqui desenvolvidos. Mas como essa linha de pesquisa desborda da teoria para a prática, exercícios de escrita criativa serão basilares nesse processo, com a produção e a análise de diversos textos narrativos, poéticos e dramáticos, entre outros.
Não se pode deixar de considerar também os fenômenos mais recentes de escrita colaborativa e sincrônica, típica das plataformas digitais, e sua inserção no sistema da literatura, as implicações no processo criativo literário, a problematização da relação entre autor e leitor e, por que não, os efeitos desta prática na circulação e recepção da obra literária. Enfim, como o processo criativo está no centro do campo discursivo que se denomina “literatura”, é na presente linha de pesquisa que ele receberá em nosso programa toda a atenção analítica e prática.
Disciplinas relacionadas à linha de pesquisa Escrita Criativa
Disciplinas nucleares ou propedêuticas
Código 4017 – Escritas de si – Autoficção
Código 4018 – Escrita Criativa I
Código 4019 – Escrita Criativa II
Código 4020 – Tópicos de Leitura I
Código 4021 – Tópicos de Leitura II

Não vá ainda! 😀

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