Projetos de Pesquisa

PROJETOS DE PESQUISA E PUBLICAÇÃO RECENTE

DOCENTE: ANNA STEGH CAMATI
LINHA DE PESQUISA: LITERATURA E INTERMIDIALIDADE
PROJETO: LITERATURA, ARTES, MÍDIAS: TRAVESSIAS E TRANSAÇÕES INTERMIDIÁTICAS

Descrição: o projeto visa estudar as relações entre o texto literário e outras artes e mídias, como o teatro, o cinema, a televisão, a pintura, o romance gráfico, a fotografia, a música em contextos culturais, históricos e geográficos diversos. No contexto do Brasil e do hemisfério sul, o projeto objetiva explorar a antropofagia cultural (apropriação antropofágica) como metodologia e estratégia de decolonização. Com base em perspectivas teóricas de críticos brasileiros e estrangeiros, como Claus Clüver, Linda Hutcheon, Gérard Genette, Irina Rajewsky, Liliane Louvel, Werner Wolf, Henry Jenkins, Robert Stam, Randal Johnson, Ismail Xavier, Júlio Plaza, Oswald de Andrade, Haroldo de Campos, Patrice Pavis, Peter Burke, Silviano Santigo e outros, serão investigadas as práticas (inter)textuais, (inter)midiáticas e (inter)culturais que conduzem a novos modos de percepção e geram novos sentidos, entre elas reescrituras, novelizações, adaptações cênicas e fílmicas, apropriações antropofágicas, écfrase, poesia visual, Sound Art, etc. A adaptação como fenômeno histórico, cultural e intermidiático; a transposição midiática ou tradução intersemiótica; a combinação de mídias diversas em contextos mixmídia, multimídia e intermídia; as referências intermidiáticas; os cruzamentos de fronteiras e a transmidialidade; a remediação e sua importância na criação de novas mídias; e as interfaces ou hibridizações entre duas ou mais mídias serão objeto de investigação e discussão.

Participantes: Adriane Corrêa de Barros, Ariadne Patrícia Nunes Wenger, Ariane Regina de Oliveira Hidalgo (aluna egressa), Celia Regina Celli, Daniel Augusto Zanella, Elaine Soares da Silva (aluna egressa), Fabrício de Lima Moraes, Fernanda Emeri Mokfa Matitz Celuppi, Jean Christopher Silva Sanches, Julia Cristina Ferreira, Luis Gustavo Iung, Marcos de Souza Moraes, Patrícia Teresinha Correa Fiori Manfre (aluna egressa), Paulo Roberto Pellissari, Ronaldo Sergio da Silveira Filho, Selma Rodrigues de Andrade, Thailise Roberta Becker (aluna egressa), Thais dos Santos Pires (alunos do Mestrado e Doutorado da UNIANDRADE)

DOCENTE: ANNA STEGH CAMATI
LINHA DE PESQUISA: LITERATURA E INTERMIDIALIDADE
PROJETO: POÉTICAS E POLÍTICAS DO TEXTO TEATRAL E DA CENA

Descrição: O projeto objetiva estudar a subversão de protocolos tradicionais de raiz aristotélica e hegeliana, em textos de teatro e na cena, para promover um amplo debate sobre o desenvolvimento de novas temáticas, linguagens e proposições estéticas no campo das artes cênicas, do início da modernidade à contemporaneidade, tomando como base perspectivas teóricas literárias, artísticas, filosóficas e culturais de pensadores de diversas épocas, principalmente teóricos dos séculos XX e XXI, como Peter Szondi, Bertolt Brecht, Patrice Pavis, Hans-Thies Lehmann, Jean-Pierre Sarrazac, Josette Féral, Marvin Carlson, Anne Ubersfeld, Sílvia Fernandes, Ingrid D. Koudela, Luiz Fernando Ramos, entre outros. O projeto visa, ainda, explorar a performance e o happening como modalidades artísticas híbridas, bem como abordar tópicos relacionados com questões identitárias e com a mudança de estatuto da personagem no teatro, entre eles a crise do sujeito e a nova concepção da subjetividade a partir da segunda metade do século XIX; a personagem como processo e produto das relações sociais; a desconstrução ou fragmentação da personagem individualizada; a personagem alegórica construída a partir de uma dimensão coral, entre outros.

DOCENTE: BRUNILDA TEMPEL REICHMANN
LINHA DE PESQUISA: LITERATURA E INTERMIDIALIDADE
PROJETO: (RE)LEITURAS CRÍTICAS DA NARRATIVA

Descrição: Este projeto teve seu título inspirado em uma palestra do Prof. Gumbrecht que cunhou a expressão “contemplação secular” para o constante voltar às leituras já realizadas e vê-las sob outra perspectiva ou olhar. O projeto está relacionado à linha de pesquisa Poéticas do Contemporâneo e a várias disciplinas do curso do Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária da Uniandrade, especialmente às disciplinas Teorias da Narrativa e Teoria e Estudos Literários. O objetivo principal desse projeto é demonstrar como textos literários – contos, novelas e romances – podem ser lidos e relidos criticamente por vários ângulos, sob vários olhares, à medida que nos (re)encontramos com textos ficcionais. Os participantes deste projeto debruçar-se-ão sobre vários textos e, partindo de uma (re)leitura minuciosa, verão qual das abordagens críticas do século XX e XXI, estudadas nas disciplinas mencionadas, melhor se aplica à análise da narrativa. Com isso, demonstrarão que o texto suscita múltiplos olhares críticos ou múltiplas leituras. As abordagens críticas trabalhadas são: crítica genética (Salles, Grésillon), estética da recepção (Iser e Jauss), descontrucionismo (Derrida, Culler), crítica psicanalítica (Freud, Jung, Lacan), estudos de gênero (Butler, Holanda), teoria queer (Foucault, Sedfwick, Butler, Rich), novo historicismo (Gallager & Greenblat), entre outros.

Participantes: Adriane Corrêa de Barros, Cleide Rosa Paulino Pelegrini, Cristian Abreu de Quevedo, Denize Moura Dias de Lucena, Dinair Iolanda da Silva Natal, Fernanda Emeri Mokfa Matitz Celuppi, Janine Aparecida Cardoso, Jean Christopher da Silva Sanches, Thailise Roberta Becker (aluna egressa), Thais dos Santos Pires e Viviane Prass Galvão (alunos do Mestrado e Doutorado da UNIANDRADE)

DOCENTE: BRUNILDA TEMPEL REICHMANN
LINHA DE PESQUISA: LITERATURA E INTERMIDIALIDADE
PROJETO: TRANSMIDIAÇÃO: (RE)CRIAÇÕES INTERARTES / INTERMÍDIAS

Descrição: Este projeto está relacionado à linha de pesquisa Literatura e Intermidialidade e às disciplinas Imagem e Literatura, Estudos de Intermidialidade e Literatura e Tecnologia Digital. O objetivo deste projeto é a trabalhar as transposições artísticas/midiáticas ou as releituras de textos literários. A noção de “texto” é utilizada para significar qualquer trabalho criativo ou releitura, qualquer manifestação hipertextual artística ou midiática. Considerando, no entanto, que Literatura e Intermidialidade é uma das linhas de pesquisa do programa em Teoria Literária, a visada literária sempre terá prioridade sobre outros objetivos; a literatura sempre terá primazia sobre outras expressões artísticas. Este projeto guarda-chuva pretende abarcar vários desmembramentos que serão desenvolvidos ao longo de anos e que resultarão em publicação. A maioria dessas tratará de romances e adaptações fílmicas, de romances e séries televisivas, entre outros, e terá como embasamento teórico os conceitos trabalhados por Gérard Genette (estruturas narrativas), Jacques Aumont (estética do filme), Brian McFarlane (romance para o cinema), Robert Stam (teoria do cinema), Claus Clüver (intermidialidade), Irina Rajewsky (intermidialidade, intertextualidade e remediação), Lars Elleström, entre outros. Este projeto incluirá também o estudo de roteiros considerados mídia qualificada por Elleström.

Participantes: Celia Regina Celli, Cristian Abreu de Quevedo, Thailise Roberta Becker (aluna egressa) e Thais dos Santos Pires.

DOCENTE: BRUNO VINÍCIUS KUTELAK DIAS
LINHA DE PESQUISA: POLÍTICAS DA SUBJETIVIDADE
PROJETO: A PLURALIDADE DO FEMININO NA(S) SOCIEDADE(S): AS REPRESENTAÇÕES DA MULHER NA LITERATURA

Descrição: Se a literatura funciona como um reflexo da sociedade, por meio dela somos capazes de observar aspectos que permeiam culturas e épocas diferentes. Dentre tais aspectos, um dos que mais se destaca na atual conjuntura social brasileira e mundial é a representação da mulher e seu papel social, seja ele conquistado ou incumbido. É essencial destacar que se torna impossível considerar apenas uma representação para o que temos como imagem para a mulher ou para o feminino. Tais termos englobam uma multiplicidade de características e definições, especialmente se considerarmos perspectivas sociais, religiosas, culturais ou raciais, por exemplo. Vale reforçar que, assim como essa pluralidade é moldada de acordo com os diferentes fatores que regem e regulam as sociedades, as representações da mulher são afetadas pelas distintas autorias que as criam. Seja como forma de resistência e crítica social, seja para reforçar estereótipos, as personagens femininas permeiam esse universo literário e artístico. O objetivo deste projeto é investigar como a literatura, também por meio de um diálogo intermidiático com outras obras, retrata tal pluralidade do gênero. O presente projeto propõe o início das discussões e fomento da pesquisa a respeito das questões de gênero que envolvem o feminino, buscando colaborar com a produção acadêmica sobre o tema em suas mais diversas perspectivas. Compõem as referências principais obras de autores como Edward Whitmont, Anne Baring e Jules Cashford, Silvia Federici, Judith Butler, entre outros. Essa investigação, análise e produção técnica, também se direciona à disciplina de “Estudos de Gênero” do currículo do programa de pós-graduação.

DOCENTE: CAMILA MARCHIORO
LINHA DE PESQUISA: POLÍTICAS DA SUBJETIVIDADE
PROJETO: ITINERÁRIOS LUSÓFONOS: ESCRITORAS E NARRATIVAS DE VIAGEM NO SÉCULO XX

Descrição: No Brasil, a escrita de viagem germina no século XVIII como consequência da expansão marítima portuguesa. Desde então, são muitos os diários, livros e crônicas de viagem que chamaram a atenção pela sua contribuição histórica, sociológica, antropológica e literária. Os séculos XIX e XX trouxeram a mulher para o mundo viajante, todavia, é notável o pouco interesse da crítica historiográfica e literária por relatos de escritoras. Ainda que o século XX tenha propiciado uma maior participação das mulheres nos cenários literários de Brasil e Portugal, dado maior liberdade para suas viagens e para a publicação de seus relatos em jornais e livros, são raros os estudos sobre as narrativas de viagens escritas por autoras lusófonas. A maioria do material crítico em português aborda o tema a partir de textos em língua estrangeira, analisando relatos de viajantes inglesas, americanas, austríacas ou alemãs. Por tudo isso, este projeto visa à organização, análise e comparação de relatos de viagem do século XX escritos em língua portuguesa e por mulheres do Brasil e de Portugal. Objetiva-se uma leitura estética dos textos a partir da qual se levanta material para discutir questões de identidade/alteridade tal como manifestas pelas autoras selecionadas. O corpus é composto por livros completos e crônicas de viagem esparsas de: Julia Lopes de Almeida, Maria Lamas, Maria Archer, Natália Correia, Rachel de Queiroz, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Agustina Bessa-Luís. Dividido em duas etapas de pesquisa (aspectos formais da narrativa de viagem e questões de identidade e alteridade), o projeto poderá levantar dados interessantes sobre questões de identidade, gênero e de relação com o outro na modernidade.

DOCENTE: EDSON RIBEIRO DA SILVA
LINHA DE PESQUISA: POÉTICAS DO CONTEMPOR NEO
PROJETO: ESTÉTICAS DO RETORNO DO AUTOR NA FICÇÃO, NA AUTOFICÇÃO E NA ANTIFICÇÃO

Descrição: A teoria literária tem focalizado o fenômeno que vem sendo chamado de “retorno do autor”, através de inúmeras manifestações. O retorno do autor é um fenômeno complexo, porque exige uma revisão de conceitos que ainda vêm tendo preponderância dentro dos estudos linguísticos e literários. A negação da autoria, por disciplinas como a Análise do Discurso de linha francesa e por demais tendências originadas na chamada “virada discursiva” ocorrida depois da Segunda Guerra Mundial, sobretudo por herdeiros da desconstrução, de Derrida, do inconsciente coletivo, de Lacan, e dos estudos discursivos de Foucault, acabou por gerar um pensamento quase hegemônico de negação da subjetividade e, consequentemente, da originalidade da produção do discurso, mesmo na produção artística. A morte do autor passou a servir de pretexto para que as tendências sociológicas de abordagem da literatura olhassem para a natureza da coisa representada com a ilusão de cópia do real, enquanto obliterava a possibilidade de a produção de um discurso artístico servir para aquilo que filósofos como Paul Ricoeur chamaram de “identidade narrativa”. O retorno do autor ainda é um fenômeno observado sem a devida atenção no Brasil. Trata-se, sem dúvida, de uma miopia em relação ao que o retorno do autor tem efetivamente representado na literatura contemporânea, brasileira ou do exterior. As tendências derivadas do eu como narrador têm servido, nas últimas décadas de modo exacerbado, para a manifestação de aspectos da sociedade que partem do individual para chegar ao coletivo. Ou seja, elas constituem lugares-de-fala. De um modo geral, pode-se dizer que o retorno do autor é parte do conjunto de fenômenos que constituem o retorno do real na literatura pós-moderna. A demanda pelo real procurou modos mais complexos de elaboração da linguagem literária que aqueles recorrentes nas estéticas realistas. A objetividade do realismo deu lugar à subjetividade como possibilidade de legitimação do real. A voz do autor, representada através da voz do narrador, é um recurso que legitima o real narrado. O retorno do autor tem na memória individual uma das fontes para a narrativa. Mas essa memória é assumida através da voz que narra e da personagem representada. Assumir a voz como sendo de um sujeito que fala de si e de uma realidade que conhece por ser parte dela traz consigo configurações estéticas marcadas pela autoria. Pela busca de uma identidade, narrativa ou ontológica. Em vez de uma narrativa que parece elaborar-se sozinha, a metanarrativa insiste em evidenciar, para o leitor, que existe um trabalho de configuração do texto. Essas estéticas fazem lembrar o modo pelo qual o romance assimilou os gêneros de escritas de si, sobretudo no século XVIII, e fez com que o evidentemente ficcional da narrativa literária passasse a ser uma mimetização das escritas que falam sobre o cotidiano. Mikhail Bakhtin abordou cuidadosamente esse fenômeno em sua Teoria do romance. Naquele momento de cristalização do romance, surgiu uma nova possibilidade para a ficção: representar o real através da mimetização de vozes que falavam do presente, inclusive fingindo a falta de domínio sobre a narrativa, o desconhecimento de desenlaces e de eventos futuros. A representação dos modos relativos de ver o real a partir dos sujeitos foi perseguida pela modernidade. O real tornou-se menos atraente que os modos particulares de representação. O retorno do real passou a ser visto como marca da narrativa pós-moderna, o que trouxe de volta, em princípio, modos mais conservadores de narrar. No entanto, é preciso que se observe que o retorno do autor, como parte desse retorno do real, é uma continuação da tendência apontada por Bakhtin de a narrativa manifestar a voz do sujeito que narra. Trata-se, novamente, de uma focalização diferenciada do que seja ficção na narrativa literária. A autoficção e a antificção são fenômenos que se juntam e formam o que se tem definido como “literatura de testemunho”. Tanto aquela narrativa que trata do real, a partir da memória do autor, configurada como gênero ficcional, como o romance, a novela, o conto, quanto as escritas de si não ficcionais, como autobiografias, diários, cartas e crônicas, acabam por constituir uma reação contra as políticas do esquecimento, expressão comum a Walter Benjamin e a Paul Ricoeur. Mais que esforços contra o esquecimento, essas narrativas buscam evidenciar o presente vivenciado por grupos. Nesse sentido, as narrativas do eu assumem a condição de testemunho acerca de aspectos da realidade não tratados como frutos do imaginário, mas da verdade. O narrador em eu possui autoridade sobre o desvelamento da realidade que narra, ou seja, ele ocupa um lugar-de-fala quando está atrelado à figura do autor, que não é elemento ficcional. Existem aquelas tendências que focalizam o presente de grupos identitários, no que se refere a aspectos como raça, gênero, classe social, deficiência física, religião, migração, faixa etária, entre outros. As narrativas que representam essas realidades fixam modos complexos de configuração das vozes daqueles que estão sendo representados. A voz em primeira pessoa, configurada como diário, pode ser autoficcional ou antificcional, como Philippe Lejeune a definia, mas é marcada, sem dúvida, pela evidenciação da autoria. Há uma subjetividade que se assume como autor. O esforço por uma identidade narrativa, como queria Paul Ricoeur. Parte do que Beatriz Sarlo já havia chamado, há décadas, de “guinada subjetiva” e Michel Foucault, de “parresía” ou “coragem da verdade”, essa escrita de si, de natureza memorialística, é um esforço pelo reconhecimento de que a escrita autoral pode resultar em identidade narrativa. Uma identidade que trafega entre o individual e o coletivo. Não se trata, grosso modo, de uma manifestação de narcisismo gratuito. O teórico italiano Ettore Finazzi-Agrò fala das vantagens da passionalidade que esse narrador em eu pode assumir como sendo um recurso de fixação do real de que a narrativa objetiva não dispõe. Testemunhar possibilita que se fale daquilo que é interditado a esse narrador que fala de fora. O interdito (ou inter-dito) exige aquela coragem da verdade que torna essas escritas testemunhais um esforço pela manifestação do que costuma ser ocultado ou silenciado. É uma das razões pelas quais o retorno do autor é um fenômeno atrelado à literatura engajada, aos movimentos identitários. A demanda pela publicação de cartas e autobiografias é outra manifestação dessa tendência. Correspondências de escritores são formas de metadiscurso. Assim como a demanda pela crônica assinada por escritores que representam grupos identitários. De um modo geral, o retorno do autor é um fenômeno abrangente e complexo. Como literatura, ele tem demandado estudos que o focalizem como fenômeno estético e não somente como uma demanda sociológica. São estéticas que desnorteiam. A performance também é uma estratégia para que essas obras sejam recebidas pelo leitor de modo satisfatório. Afinal, o retorno do autor embaralhou outra vez o que era recebido como ficção desde a cristalização do romance e do conto e do surgimento da autobiografia canônica. Enquanto isso, teóricos como o espanhol Manuel Alberca apelam para que o diário íntimo seja focalizado como portador da voz daqueles a quem não era permitido o discurso, como mulheres e adolescentes. Existe uma demanda que tem requerido maior atenção para o retorno do autor ou para possibilidades de autoria que não são devidamente reconhecidas. Trata-se de uma possibilidade profícua de abordagens, pois se trata de atentar tanto para as identidades narrativas quanto para aquelas especificidades estéticas que as particularizam.

DOCENTE: GREICY PINTO BELLIN
LINHA DE PESQUISA: POÉTICAS DO CONTEMPORÂNEO
PROJETO: MACHADO DE ASSIS: NOVAS PERSPECTIVAS E ABORDAGENS

Descrição: O objetivo do projeto de pesquisa é reunir pesquisadores da obra de Machado de Assis visando o desenvolvimento de novas perspectivas e abordagens, priorizando: as relações entre Machado e outros escritores; relações entre a obra machadiana e outras artes e mídias, incluindo cinema, televisão, HQ, graphic novel, pintura, escultura, entre outras, bem como as estratégias utilizadas para adaptação e recepção textual, entre eles remix, mash-up, paródia, emulação, intertextualidade e confluência; a materialidade do texto machadiano, com especial atenção à contribuição do escritor na imprensa periódica de sua época, com enfoque nas crônicas, ensaios e demais textos publicados em jornal; revisitação da fortuna crítica de Machado de Assis, com especial enfoque na desconstrução de abordagens consagradas visando a criação e o desenvolvimento de outras abordagens que priorizem a leitura do texto literário; e tradução de Machado de Assis, considerando a inserção de sua obra no debate acadêmico contemporâneo internacional, bem como as contribuições recentes de vários tradutores.

Participantes: Ionara Satin (UNESP-Araraquara), Daniel Augusto Zanella, Michele de Paula Celini (aluna egressa), Aline Isabel Waszak, Amanda Ferreira Cilião, Ariadne Patrícia Nunes Wenger, Denize Moura Dias de Lucena, Fernanda Emeri Mokfa Matitz Celuppi, Johnes Tadeu Gomes e Leandro Ferreira do Amaral (alunos do Mestrado e Doutorado da UNIANDRADE)

DOCENTE: GREICY PINTO BELLIN
LINHA DE PESQUISA: POÉTICAS DO CONTEMPORÂNEO
PROJETO: MATERIALIDADES DA COMUNICAÇÃO E PRODUÇÃO DE PRESENÇA

Descrição: O objetivo deste projeto de pesquisa é o estudo e a investigação dos fenômenos pertencentes ao campo não-hermenêutico, bem como aos elementos relacionados às materialidades e produção de presença na literatura, com base no estudo da obra teórica de Hans Ulrich Gumbrecht e demais autores que se dedicam ao tema. Para Gumbrecht (2004), o estudo das materialidades tem por função desestabilizar a hegemonia do paradigma hermenêutico nas ciências humanas, fornecendo alternativas para formas de investigação situadas fora deste paradigma. O objetivo do projeto é, portanto, não apenas estudar e discutir a contribuição de estudiosos dedicados ao tema, mas também oportunizar o desenvolver novas ferramentas de investigação das materialidades e produção de presença no campo literário.

Participantes: Johnes Tadeu Gomes, Ana Paula Costa de Oliveira Padovino, Claudia Regina Camargo, Daniel Augusto Zanella, Denize Moura Dias de Lucena (alunos do Mestrado e Doutorado da UNIANDRADE)

DOCENTE: MAIL MARQUES DE AZEVEDO
LINHA DE PESQUISA: POLÍTICAS DA SUBJETIVIDADE
PROJETO: SUBGÊNEROS DAS NARRATIVAS DE VIDA: DAS CONFISSÕES DE ROUSSEAU À AUTOFICÇÃO


Descrição:
O projeto encadeia-se com pesquisas anteriores sobre gêneros memorialísticos, desenvolvidas a partir dos conceitos de memória de Maurice Halbwachs e dos princípios do pacto autobiográfico proposto por Phillipe Lejeune. Ao narrar sua própria vida, o escritor se torna tanto o sujeito que observa como o objeto da investigação. Daí a complexidade da escrita autobiográfica, que permite a livre escolha e elaboração de lembranças passadas. O termo autobiografia foi cunhado em finais do século XVIII, mas a escrita autorreferencial remonta a tempos anteriores, sob diferentes denominações: “memórias”, “vida de” (Santa Teresa de Ávila); “ensaios de mim mesmo” (Montaigne); “confissões” (Santo Agostinho, Rousseau). A partir de breve estudo retrospectivo a proposta é pesquisar a diversidade de subgêneros das narrativas de vida praticados hoje: autobiographics, autobiografia na terceira pessoa, autoetnografia, autoginografia, bildungsroman, diário, cartas, memórias, narrativas de autoajuda, narrativas de sobreviventes, testemunho, travelogues, narrativa de trauma e autoficção. Utilizam-se como apoio teórico, além do alicerce constituído por Halbwachs e Lejeune, os conceitos de Elizabeth Bruss (autobiografia como ato performático), Paul John Eakin (“eus” em relação), Paul de Man (representação autobiográfica como personificação). A necessidade de afirmar uma identidade própria, intrínseca ao sujeito pós-colonial, aos migrantes e representantes de minorias étnicas ou religiosas é temática comum à literatura das últimas décadas. Assim, tais estudos aplicam-se aos trabalhos de análise crítica a serem desenvolvidos nas disciplinas do curso ligadas ao tema.

Participantes: Ana Paula Costa de Oliveira Padovino, Dione Mara Souto da Rosa, Janine Aparecida Cardoso, Johann Ioris (aluno egresso), Kauana de Paula Domingues, Luiz Fernando Bertoli, Michele de Paula Celini (aluna egressa), Tiago Silvio Dedone.

DOCENTE: MAIL MARQUES DE AZEVEDO
LINHA DE PESQUISA: LITERATURA E INTERMIDIALIDADE
PROJETO: TRANSAÇÕES MIDIÁTICAS EM CONTEXTOS SOCIOCULTURAIS DO SÉCULO XXI

Descrição: A partir de teorias contemporâneas sobre adaptação, apropriação, remediação e transmidialidade, este projeto objetiva atingir compreensão aprofundada de como as culturas reciclam suas próprias obras clássicas, ou apropriam-se de obras de outras culturas. A pesquisa destina-se, em última análise, à orientação de subprojetos de acadêmicos de mestrado e doutorado sobre as relações inter e intra midiáticas nas literaturas situadas no cruzamento de culturas, a exemplo das literaturas de minorias e das literaturas pós-coloniais. Utilizam-se como base teórica os estudos de Linda Hutcheon, Bolter & Grusin e Lars Ellëstrom.

Participantes: Ariadne Patrícia Nunes Wenger (aluna Doutorado UNIANDRADE) e Michele de Paula Celini (aluna egressa)

DOCENTE: MARCELO BARBOSA ALCARAZ
LINHA DE PESQUISA: POÉTICAS DO CONTEMPOR NEO
PROJETO: O IMAGINÁRIO DO SILÊNCIO E SOLIDÃO NAS ESCRITAS DE SI

Descrição: Em um mundo no qual predomina o ruído, esse projeto investiga o silêncio e a solidão, suas ambiguidades e peculiaridades nas chamadas escritas de si: (auto)biografia, diário íntimo , auto- ficção, blogs . Serão priorizados nesse projeto autores contemporâneos detentores de escrita biográfica ficcional e não-ficcional, brasileiros e latino-americanos, entre os quais, Mario Levrero, César Aira e Ricardo Lísias. A estrutura da pesquisa se construirá perante um aparato teórico formado por autores como Philippe
Lejeune, Leonor Arfuch e David Le Breton. Pretende-se através das obras estudadas, problematizar exemplos da importância do silêncio e da solidão na formação da subjetividade moderna e contemporânea, apresentando diversos matizes e possibilidades de significado dessas categorias nas escritas de si.

Participantes: Claudia da Rocha Moreira Sampaio de Andrade, Fernanda Emeri Mokfa Matitz Celuppi, José Claudemir Vieira (aluno egresso), Juciane de Bonfim Santos (aluna egressa), Ronaldo Sergio da Silveira Filho (alunos do Mestrado e Doutorado da UNIANDRADE)

DOCENTE: MARCELO BARBOSA ALCARAZ
LINHA DE PESQUISA: POÉTICAS DO CONTEMPORÂNEO
PROJETO: OS NOMES DO DESERTO: UM OLHAR SOBRE AS NARRATIVAS CONTEMPORÂNEAS

Descrição: Esta pesquisa problematizará narrativas que, de certo modo, mimetizam o mal estar contemporâneo, privilegiando textos publicados a partir da década de oitenta do século passado até os dias atuais. A era do vazio (LIPOVETSKY) se caracteriza pela indiferença, sedução e apatia. Nesse período, a questão da busca pelo sentido torna-se uma discussão menor, nenhuma metafísica mobiliza o sujeito narcísico. Despotencializados, os personagens literários objetivam a sobrevivência nas grandes cidades ou circulando por não-lugares (AUGÉ) e meio-lugares (CARERI). Essa precariedade também foi caracterizada como Vida Líquida (BAUMAN) e posteriormente como Sociedade do Cansaço (CHUL-HAN). No plano estético, frequentemente se recorre a fragmentação, ao corte e a descontinuidade, marca de um presenteísmo (MAFESOLLI) que impossibilita a imaginação de um futuro. Serão bem vindas nessa pesquisa autores brasileiros contemporâneos e da literatura latino-americana que expressaram ficcionalmente os problemas elencados acima: João Gilberto Noll, Luiz Ruffato, Mário Levrero, Paloma Vidal, entre outros.

Participantes: Alvaro Luis Ferreira Divardin, Ana Lúcia Corrêa Darú, Claudia Regina Camargo, Fernanda Emeri Mokfa Matitz Celuppi, Kauana de Paula Domingues (alunas do Mestrado e Doutorado UNIANDRADE), Juciane de Bonfim Santos e Tania Maria Rocha (alunas egressas UNIANDRADE)

DOCENTE: OTTO LEOPOLDO WINCK
LINHA DE PESQUISA: ESCRITA CRIATIVA
PROJETO: PONTO DE VISTA E LUGAR DE FALA: CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS E ÉTICAS SOBRE O FOCO NARRATIVO

Descrição: Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Todavia, o foco narrativo é muito mais que um ponto de vista. Isto é, numa narrativa, o foco narrativo envolve mais questões e problemas do que simplesmente situar o ponto de vista a partir do qual determinada história é narrada. Em outras palavras: mais do que a determinação do tipo de narrador, a questão do foco narrativo envolve questões que hoje extrapolam os limites imanentistas da velha crítica formal. Se no século XIX Flaubert podia afirmar naturalmente que “Madame Bovary c’est moi”, e Rimbaud, “Je est um Autre”, no século XXI essas declarações não são tão pacíficas. Quem pode falar pelo outro? O autor empírico é livre para assumir qualquer “autor implícito” ou voz narrativa? E o lugar de fala? Ou melhor: a categoria do lugar de fala pode ser aplicada à ficção? A despersonalização moderna ainda é válida no personalismo pós-moderno? O presente projeto, depois de uma revisão crítica sobre as discussões técnicas sobre ponto de vista (Henry James, Percy Lubbock, Wayne Booth, Jean Pouillon, Wolfgang Kayser, Norman Friedman, Gerard Genette), pretende conjugar esses debates com as discussões que se dão no âmbito dos estudos culturais, pós-estruturalistas e pós-coloniais (Pierre Bourdieu, Michel Foucault, Judith Butler, Gayatri Spivak, Djamila Ribeiro).

Participantes: Adriane Corrêa de Barros, Josiel dos Santos Lima e Priscila Aline Cardoso

DOCENTE: PAULO HENRIQUE DA CRUZ SANDRINI
LINHA DE PESQUISA: ESCRITA CRIATIVA
PROJETO: EXPERIÊNCIAS LITERÁRIAS RADICAIS

Descrição: Este projeto tem por objetivo o estudo da poética (aqui entendida no sentindo de criação artística ou linguagem) de obras escritas por importantes autores da literatura latino-americana que ainda estão em processo de recepção por parte de leitores e crítica brasileiros. Centraremos nossa pesquisa especificamente em quatro autores cujas obras, além de serem de difícil classificação enquanto gênero, trouxeram para a literatura do subcontinente temas e poéticas pouco ou nada exploradas até o período em que foram escritas. Os autores e livros são: Julio Rámon Ribeyro (peruano) e seu “Prosas apátridas”, obra feita de fragmentos que oscilam entre anotações em diário, aforismos e ensaio filosófico (formas pouco usuais para representar uma realidade inexoravelmente fraturada); Juan Emar (chileno) e seu “Um ano”, espécie de romance curto, escrito em forma de diário (que abrange apenas o primeiro dia de cada mês) e que se configura em uma das experiências ficcionais mais radicais das vanguardas latino-americanas a flertar com o surrealismo e a patafísica; Juan Rodolfo Wilcock (argentino) e seu “A sinagoga dos iconoclastas” – espécie de enciclopédia de perfis de personagens-inventores que transitam entre a loucura e a genialidade –, cujos temas vão da telepatia à parapsicologia; e, por fim, Pablo Palacio (equatoriano) e seu “Um homem morto a pontapés”, livro de 1927, pioneiro em seu aspecto formal (uma radical experimentação com a linguagem), caracterizado pela criatividade tipográfica e por abordar temas praticamente intocados até então pela ficção latino-americana, como o canibalismo, a violência urbana, a homossexualidade e a bruxaria. A base teórica deste projeto de pesquisa é a filosofia da linguagem de Mikhail Bakhtin.

Participantes: Ana Lúcia Corrêa Darú, Denize Moura Dias de Lucena, Ronaldo Galindo Sobral e Ronaldo Sergio Silveira Filho

DOCENTE: VERÔNICA DANIEL KOBS
LINHA DE PESQUISA: LITERATURA E INTERMIDIALIDADE
PROJETO DE PESQUISA: DO LIVRO IMPRESSO ÀS HIPERMÍDIAS: LITERATURA E OUTRAS ARTES

Descrição: O projeto analisa a relação da literatura com outras mídias e artes na literatura digital (ESKELINEN, 2012) e nos livros impressos (CARRIÈRE; ECO, 2009). No que se refere à literatura cyber, são contempladas não apenas as questões associadas à produção e ao acesso de textos poemas e narrativas por meio do computador e do smartphone como hipermídias (JENKINS, 2009; SANTAELLA, 2005), mas também aquelas relacionadas às mudanças que a literatura digital provoca, no formato impresso. Com o advento da Internet, o objeto livro, influenciado pelos gêneros digitais (MARCUSCHI; XAVIER, 2004) e pela multiplicidade de mídias e artes que convergem nas redes (IEDEMA, 2003; JENKINS, 2009), vem experimentando novas possibilidades expressivas, tanto no leiaute como na linguagem (BEIGUELMAN, 2003). Diante desse panorama, esta pesquisa privilegia o estudo da literatura digital, em sentido amplo, e de obras impressas que invistam na reconfiguração da arte literária, em função do diálogo com as novas tecnologias (em especial as hipermídias). Nesse contexto, alguns modelos são de grande relevância para este projeto, tais como: sampleamento (LANKSHEAR; KNOBEL, 2007), remix (LESSIG, 2008), mashup (SONVILLA-WEISS, 2010), fanfiction (VARGAS, 2005), entre outros. Objetivos: 1) Avaliar de que modo a literatura digital está influenciando a produção dos livros impressos, tanto no leiaute quanto na linguagem. 2) Analisar vários tipos de cibertextos, para demonstrar a convergência das mídias como característica principal das hipermídias.

Participantes: Ariadne Patrícia Nunes Wenger, Claudia Regina Camargo, Julia Cristina Ferreira, Luis Gustavo Iung, Sharon Martins Vieira Noguêz (alunos Mestrado e Doutorado UNIANDRADE) e Patrícia Teresinha Correa Fiori Manfre (aluna egressa)

A área de concentração – Teoria Literária  –  abriga quatro linhas de pesquisa:
I – Políticas da Subjetividade: abriga estudos relacionados às subjetividades da pós-modernidade, presentes na literatura e em outras expressões culturais.
II – Poéticas do Contemporâneo: abriga estudos relacionados à estética literária e à intertextualidade.
III – Literatura e Intermidialidade: abriga estudos da literatura e outras artes e mídias, tais como cinema, teatro, pintura e música.
IV – Escrita Criativa: aborda criticamente o processo de criação textual, compreendendo os mais diversos gêneros literários (narrativo, lírico, dramático).
DESCRIÇÃO DAS LINHAS DE PESQUISA E RELAÇÃO ENTRE AS LINHAS E AS DISCIPLINAS
I – POLÍTICAS DA SUBJETIVIDADE
Esta linha de pesquisa volta-se aos estudos de cultura, teoria, história e crítica literária com vistas à investigação dos processos de construção da subjetividade nos contextos literário, histórico, político e cultural. Investigação dos processos pelos quais o texto literário articula as relações de poder que dão origem à formação do sujeito romântico, tanto em seu aspecto político, quanto ontológico, ético e epistemológico. Estudos cujo enfoque redunda na produção de saberes capazes de ampliar a compreensão em torno das políticas que foram ou estão sendo empregadas no processo de construção das subjetividades, tanto por meio da individualidade, quanto através da coletividade. Discussão das formas e práticas de construção da subjetividade das minorias nos textos de autores representativos da minoria estudada.
Entende-se aqui a subjetividade romântica como um conjunto de valores identitários representativos da relação de forças no campo artístico, histórico e cultural do período. Os estudos propostos nesta linha pretendem aproveitar a metodologia do pensamento romântico como anotação intermediária, visto que ao centrar a produção do discurso num EU histórico e individualizado, o romantismo, paradoxalmente, multiplica olhares sobre indivíduos.
Por outro lado, as investigações do humano ganham dimensão mais complexa a partir do momento em que é possível questionar a dicção clássica do homem; a experiência surge como errância do sujeito centrado no discurso individualizado, cúmulo de angústias e destinos opacos. Torna-se possível pensar pela lógica da diferença. Diferença de credo, de raça, de forma e de lugar. Dessa forma, as séries se complexificam e operam num meio em que a força dos campos social e político se relativizam radicalmente. Por outro lado, mas em simultaneidade, estudar os processos identitários posteriores ao romantismo significa também acompanhar as linhas de totalitarismo que buscam “estancar” as vozes da diferença no meio social, político e cultural. Trata-se, portanto, de investigar e questionar as dicções do humano que ganham voz e lugar por meio de individualidades que se chocam ou se harmonizam caoticamente numa nova lógica de disputas e acordos nos campos social, político e cultural; trata-se, ainda, de verificar como opera a lógica de estatuir valores nacionais a partir de construções identitárias que tomam por base princípios determinados por forças sociais hegemônicas. Da mesma forma, cabe aqui a investigação da noção de raça ou etnia dentro e fora dos discursos nacionais; ou mais, a questão de gênero, presente na reflexão sobre autoria e identidades sexuais do discurso cultural nos meios social e político.
Neste sentido, o vocábulo “política” é aqui empregado para além de sua acepção tradicional, implicando não só as relações decorrentes do poder de Estado, mas toda e qualquer forma pela qual o poder se manifeste. Nesse sentido, o poder é uma prática social, algo que se exerce. O poder e a política, assim concebidos, dão origem a um duplo paradoxo. Em primeiro lugar, pressupõe-se a existência de sujeitos, de alguém que submeta outrem a seu domínio e outro alguém que se deixe submeter. Contudo, a própria ideia de subjetividade já pressupõe as relações de poder, uma vez que o sujeito só se reconhece a si mesmo na apreensão fenomenológica da existência de um Outro. Em outras palavras, a política pressupõe a subjetividade e, ao mesmo tempo, a subjetividade só se dá como resultado do exercício da política. Em segundo lugar, o modo como o texto literário articula as relações de poder que dão origem à formação do sujeito pressupõe uma referência a uma instância extratextual, o contexto, seja este o do autor, do leitor, dos personagens ou de mais de um destes concomitantemente. A linha de pesquisa Políticas da Subjetividade se define, portanto, como uma investigação acerca do modo como o discurso literário encontra uma solução poética e não necessariamente especulativa aos paradoxos mencionados acima.
Disciplinas relacionadas à linha de pesquisa Políticas da Subjetividade
Disciplinas nucleares ou propedêuticas (4001, 4002, 4003, 4004, 4005)
Código 4006 – Crítica Cultural
Código 4007 – Passagens da Modernidade
Código 4008 – Poéticas e Políticas Afro-Americanas
Código 4010 – Linguagens da Alteridade
Código 4020 – Tópicos de Leitura I
Código 4021 – Tópicos de Leitura II
II – POÉTICAS DO CONTEMPORÂNEO
Eixo de estudos que buscam evidenciar as tensões entre as posturas mais pragmáticas e tradicionais dos estudos literários e a perspectiva mais genérica e inclusiva que tem marcado a atuação teórica contemporânea, sobretudo quando se pensa na diversidade de reciclagens, combinações e recombinações no âmbito dos gêneros textuais e das múltiplas abordagens teóricas. Estudo das poéticas literárias em suas expressões contemporâneas, com ênfase à passagem da modernidade à pós-modernidade e à desconstrução dos discursos de caráter totalizante.
Os termos “moderno” e “pós-moderno” são problemáticos e controvertidos. O significado dos conceitos de modernidade e modernismo depende do contexto em que se originaram e em que são usados. Modernidade implica uma oposição a algo, e particularmente a uma época histórica que tenha passado e sido superada. Nas artes e na literatura, usa-se o vocábulo “modernismo” para nos referirmos ao desenvolvimento de formas de arte mais auto-reflexivas que surgem no final do século XIX. Outrossim, os usos da palavra “pós-modernismo” mostram tamanha diversidade de significados que ela própria contesta a simples definição. O romance pós-moderno, por exemplo, poderia ser descrito como incorporando um experimentalismo à forma narrativa, por intermédio do qual se busca um rejuvenescimento das convenções estabelecidas da própria forma.
Em outras palavras, o pós-modernismo é um discurso estético de vanguarda, que procura superar as limitações das convenções tradicionais ao procurar novas estratégias para descrever e interpretar a experiência. De acordo com Lyotard, o pós-modernismo não deve ser compreendido como uma progressão histórica que sinalize uma partida presente de um modernismo passado. O modernismo é, na verdade, caracterizado como uma resposta a um conjunto de preocupações que já são, elas mesmas, pós-modernas, uma vez que incorpora um forte desejo nostálgico pelo senso perdido de unidade e constrói em seguida uma estética de fragmentação. O pós-modernismo, ao contrário, começa com a falta de unidade mas, ao invés de lamentá-la, celebra-a. Estas discussões são retomadas por outros críticos associados ao pós-modernismo, como Jean Baudrillard, Fredric Jameson, Jacques Derrida, Michel Foucault, Luce Irigaray, entre outros.
Diante do exposto, optou-se pelo uso do termo “contemporâneo” para dar conta da multiplicidade de linguagens, pluralidade de abordagens teóricas e tendências críticas da época atual, uma vez que o texto literário e suas reciclagens artísticas apresentam-se hoje de forma múltipla, instável e complexa, numa variedade infinita de manifestações ainda pouco pesquisadas. Objetiva-se caracterizar os processos de construtividade, visando a problematização das complexas relações de forma e conteúdo em todos os níveis, nos termos das concepções estéticas e das metalinguagens hoje vigentes.
A contemporaneidade se caracteriza pela multiplicidade de linguagens literárias, pluralidade de abordagens teóricas e tendências críticas. A reciclagem artística, ou seja, a apropriação e/ou adaptação de textos, elementos culturais, formas e convenções literárias herdadas, que também se fez presente anteriormente, é uma tendência marcante. A contaminação de gêneros, a permeação de técnicas e recursos literários, os procedimentos paródicos e combinatórios e o dialogismo intertextual tornaram-se, na época de hoje, lugares comuns. Consideramos relevante, portanto, investigar as manifestações literárias que se fizeram necessárias para expressar a realidade em processo e a relatividade de valores de nossos dias, cujo mapeamento servirá para ampliar a discussão em torno da relação forma /conteúdo e constituir-se-á em veículo fecundo para repensar as relações do homem de hoje com o mundo contemporâneo.
Disciplinas relacionadas à linha de pesquisa Poéticas do Contemporâneo
Disciplinas nucleares ou propedêuticas
Código 4011 – Poéticas da Modernidade
Código 4012 – Poéticas da Reciclagem
Código 4013 – Poéticas da Cena Contemporânea
Código 4020 – Tópicos de Leitura I
Código 4021 – Tópicos de Leitura II
Código 4022 – Tópicos de Leitura III
III – LITERATURA E INTERMIDIALIDADE
Esta linha de pesquisa “Literatura e Intermidialidade” pretende debater os conceitos de intermidialidade sob uma perspectiva que vai além de um simples comparativismo, focalizando especialmente o estudo das inter-relações, dos contágios, das imbricações e dos atritos entre a literatura e outras formas de arte/mídia, que, cada vez mais convergem, gerando processos discursivos cada vez mais complexos. Transitando entre a materialidade do texto literário e a semiologia do texto, da imagem e do som, esta linha tem como meta o estudo dos processos de produção de sentido, valendo-se de conceitos como transposição midiática e intermidialidade, tradução ou transposição intersemiótica, adaptação intermidiática, entre outros. Entre seus objetivos, destacamos a análise crítica de obras (contemporâneas ou não), constituídas de textos em diferentes mídias, incluindo produções baseadas na combinação de várias mídias (espetáculos teatrais, óperas, filmes, histórias em quadrinhos, instalações e canções), bem como transposições intermidiáticas (adaptações cinematográficas, romantizações, etc.) e referências intermidiáticas: musicalização da literatura, transposition d’art, ecfrases – representações verbais de textos compostos em signos não verbais –, referências a pinturas em filmes e fotografias, entre outros.
Com enfoque transdisciplinar, esta linha de pesquisa visa a estudar as relações entre a literatura e outras artes e mídias sob o ponto de vista das teorias da Intermidialidade. Como se sabe, os Estudos da Intermidialidade constituem uma resposta à tendência à especialização extrema, que tem impedido uma compreensão mais aberta das profundas interações entre as várias formas de mídias e artes na contemporaneidade. Durante as últimas décadas, estudos sobre a Intermidialidade e a Multimodalidade têm sido estabelecidos em diversas instituições de ensino superior na Europa e na América do Norte. Entretanto, essa abordagem não é inteiramente nova, pois os Estudos da Intermidialidade foram precedidos historicamente por áreas como Estética, Filosofia, Semiótica, Literatura Comparada, Estudos da Mídia e da Comunicação, bem como Estudos Interartes. Na verdade, essa área foi denominada inicialmente “Artes Comparadas”, termo compreensível apenas para aqueles que o associavam ao conceito de Literatura Comparada. Em seguida passou a se chamar “Interarts Studies”, que corresponde a “Estudos Interartes”, em português; porém, nos países de língua alemã, a área sempre teve a denominação de Estudos da Intermidialidade.
Os Estudos da Intermidialidade ampliam o escopo de suas pesquisas ao incorporar o termo “mídias” (e não apenas “artes”): como o conceito de “arte” está associado a certos valores e convenções culturais, o termo “mídia”, com sua ênfase na materialidade dos produtos de uma mídia, tem se mostrado frequentemente mais adequado para a produção cultural desde o início do século XX – sem, no entanto, eliminar um discurso sobre “arte” em determinados contextos. Em suma, podemos definir a Intermidialidade basicamente como o estudo da cooperação e colaboração entre as mídias e as formas de arte, isto é, dos fenômenos que ocorrem entre as mídias. Assim, esse tipo de pesquisa trata de produtos culturais marcados pela ausência de limites entre uma arte/mídia e outra, consciente de que não há formas artísticas/midiáticas “puras”, já que todos os tipos de mídia e de arte estão relacionados de várias maneiras.
Esta linha de pesquisa se propõe a funcionar como uma rede, na qual os pesquisadores envolvidos podem realizar um amplo debate sobre a pertinência do conceito de intermidialidade como um operador de leitura de textos (no sentido amplo deste termo), além de promover pesquisas sobre produtos culturais/artísticos caracterizados pelo cruzamento de artes e mídias.
Disciplinas relacionadas à linha de pesquisa Literatura e Intermidialidade
Disciplinas nucleares ou propedêuticas
Código 4014 – Imagem e Literatura
Código 4015 – Estudos de Intermidialidade
Código 4016 – Literatura e Tecnologia digital
Código 4020 – Tópicos de Leitura I
Código 4022 – Tópicos de Leitura III
IV – ESCRITA CRIATIVA
Esta linha de pesquisa foi implantada considerando-se a vocação do programa para tratar da prática da escrita e de seus processos criativos. Tal vocação emergiu da presença, dentre o corpo docente do Doutorado, de professores escritores bastante representativos no meio literário regional e nacional. São eles: Edson Ribeiro da Silva, Marcelo Alcaraz, Otto Leopold Winck, Paulo Sandrini e Sigrid Renaux. Esta linha considera que os estudos literários, corretamente compreendidos, não se resumem ao estudo do texto enquanto entidade textual autônoma, tampouco à análise das condições de sua produção – isto é, ao contexto, aquilo que está no “entorno” do texto – ou à história de suas múltiplas e sucessivas recepções.
Recentemente desenvolveu-se um campo de estudos teóricos e práticos em que o texto literário é analisado enquanto processo de criação na sua interação ambivalente com as artes e os processos humanos mais amplos. Nesse sentido, pretende-se lançar um olhar sobre os bastidores, por assim dizer, do processo criativo, libertando-o na medida do possível das concepções românticas que ainda o envolvem. Desde Edgar Alan Poe que os autores mostram que o processo criativo não depende unicamente daquilo que é chamado de inspiração, mas também de um trabalho consciente de organização de ideias e palavras, baseado em técnicas e teorias e considerando as mais diversas instâncias do sistema literário.
O processo criativo em si é, atualmente, tema abordado a partir de diversas concepções, desde a crítica genética até a semiótica. Tal processo pode constituir ele mesmo uma tomada de posição do escritor e do artista, contribuindo para a discussão do aspecto ideológico da literatura. A relação do autor com o texto, o conceito de autoria e suas relações com a tramas textuais, os diferentes processos criativos e suas teorias de base, a articulação entre criação consciente e inspiração são alguns dos objetos desta linha de pesquisa. Da mesma forma, é alvo de análise a dialética entre invenção e tradição, e como isso se dá dentro de um determinado sistema literário, com seus mais variados vínculos e diálogos com o campo do extraliterário. Entrando no complexo universo dos gêneros literários, os elementos da narrativa e suas articulações arquitetônicas, a poesia e sua “hesitação” entre som e sentido também são alvo dos estudos aqui desenvolvidos. Mas como essa linha de pesquisa desborda da teoria para a prática, exercícios de escrita criativa serão basilares nesse processo, com a produção e a análise de diversos textos narrativos, poéticos e dramáticos, entre outros.
Não se pode deixar de considerar também os fenômenos mais recentes de escrita colaborativa e sincrônica, típica das plataformas digitais, e sua inserção no sistema da literatura, as implicações no processo criativo literário, a problematização da relação entre autor e leitor e, por que não, os efeitos desta prática na circulação e recepção da obra literária. Enfim, como o processo criativo está no centro do campo discursivo que se denomina “literatura”, é na presente linha de pesquisa que ele receberá em nosso programa toda a atenção analítica e prática.
Disciplinas relacionadas à linha de pesquisa Escrita Criativa
Disciplinas nucleares ou propedêuticas
Código 4017 – Escritas de si – Autoficção
Código 4018 – Escrita Criativa I
Código 4019 – Escrita Criativa II
Código 4020 – Tópicos de Leitura I
Código 4021 – Tópicos de Leitura II

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